terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ácido

Ele toca jazz e eu vacilo

Nem bem fecho os olhos

E ao abri-los

As luzes são rosa-limão

... ao menor toque da mão

Já me viro e o avesso do meio

Pele, restinga e mamilos

Sou Etta James, voz e sentidos

E o som que vem das cavernas

, o som é quase um menino

Que me levanta o vestido

E coloca a mão no meio das pernas

E um beijo antigo que me trouxe

Do Nilo

O som é ácido

O toque é doce


...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O santo boquete

.

Sacio-me no auge que é teu falo de Hermes
Gosto de amoníaco e excentricidade
anjo demoníaco e casto
tu me lembras o choro contido que guardei tanto
enquanto, esvaindo-se em esperma
Me batizavas, santo, com tua virilidade

...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Réquiem para quem vai nascer

.

E foi nos tropeços da vida

Que aprendi a pular

A cair e, como um cão, até rolar

E como me embolei!

Como fiz das dobras de meu cérebro

Um labirinto infinito de curvas impiedosas

E como derrapei nessas curvas

Como construí lagos e seus cisnes

Como me perdi em meus tempos fora de tempo

Me perdi tanto em mim

Nos caminhos que me desenhei:

Notas musicais de um réquiem para antes de nascer

E me esfolei

Renasci

E caí de novo

Tive que arriscar tudo, até o pescoço

Não entendem?

E tome fundo do poço!

Fundo de copos

Fins de carreiras

Inícios de novo. Caralho, início de novo...

As regras? Poucas me seduziram

Avancei sinais, dormi na curva

E na verdade parece que não dormi nunca!

Que estive sempre alerta

Sempre perto do perigo

Certa de que o mundo queria que eu pulasse

Pra dentro do seu abismo

Única certeza, maior que a morte

Única certeza: vou beber para esquecer

Os rostos, as palavras,

As notas do meu réquiem que ouvi ao nascer

E quando me deparei com tanto azul...

Aí vai meu recado pro mundo: pode me amar

Pode me odiar

Pode até me ignorar

Já prefiro fingir orgasmo pra você.


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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Poema me faz

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Oh, não, não acho que posso criar um poema à hora que quiser

Mas eles sim, eles me criam a toda hora

Comendo

Cozinhando, fazendo a unha,

Dançando,

Lendo

Chorando

Amando,

Rindo

Fumando um

Dois ou três cigarrinhos

Poema me faz



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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Prelúdio:

Bebo cloro e cuspo fogo

Gosto de vidro moído

E ácido muriático

Já Provaste?

Sou má

Não tenho mais alma

Esta – se já esteve em mim –

Foi mergulhar na Baía de Guanabara

Está lá, boiando

Esperando ser resgatada

Do meio do lixo

E dos barcos pesqueiros

Se ainda existe peixe por lá

Minha alma está se alimentando deles

Sou má

Porque bebo o uísque da minha mãe

E estaciono em local proibido

Sem contar que coloco os pés no sofá

Cuspam em mim!

Por favor, me escarrem!

Sou má demais...

Só na sombra, sou foda

Não compro roupas novas pra mim

E gosto de dormir até tarde

Vaca que sou, viciada em Rivotril

Onde já se viu?

Acho que serei demitida da vida

Sou má feito o catiço!

Espinhosa

Agressiva

Explosiva

Filha de um Exu mestiço

Calado

Amoitado

Fugido da sorte

Com duas pedras na mão

Esperando sentado

A hora de dar o bote

...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Oferenda


O que eu faço com esse Xangô holístico
que me procura?


me faz a oferenda de ternura
e quando eu menos espero, se mistura
numa peleja de corpos, risos e cerveja

taí teu ebó, a carne crua
e, por fim, a mulher que te deseja


...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Matadouro de memórias

.

Ontem fui asa

Fui vela barco correnteza

Cachorro barroco

Jornal rasgado

Cor laranja

Jogo da memória

Chuva de monção

E o trem que descarrilou

Na estação

Hoje sou filme

Jogo da velha

Matadouro de memórias

Marimbondos

Marimba

Fuga


Colisão


...